Um dia
de chuva às vezes forte e às vezes fraca castigava a cidade, deixando as
famílias presas em casa, fartando-se de biscoitos, televisão e internet. Na
sala uma grande tv ficava ligada em tempo integral, mesmo que ninguém estivesse
assistindo.
Enquanto
a TV alta gritava palavras sem sentido, o cachorro da casa rodava e rodava na
cama, embaixo da cadeira, procurando o melhor lugar para deitar, ou
simplesmente mudando de posição.
Sem
ninguém perceber, o cachorro levanta e vai olhar para a área, onde o carro
estacionado e a chuva com suas gotas finas formavam uma paisagem bucólica,
parada. O cachorro, entretanto, não muda de posição, não desvia o olhar e não
dá um latido, um grunido sequer. Algum tempo assim, mas ninguém nota.
O mais
velho, deitado no sofá, só tinha olhos para o super-herói saltando na tela. O
pai, sentado na sala digitava freneticamente no computador, que em cima da mesa
da sala, deixava irritada a mãe, que queria servir o almoço ( Um frango
ensopado, feito com o maior carinho ). O mais novo, jogando num computador ao
lado da TV, nem olhava para os lados.
Ninguém
notou, mas o cão, hipnotizado, não desgrudava os olhos da área. Parecia nem
respirar. De repente, num rompante, começou a uivar, num misto de uivo e choro,
mas não chamou a atenção de ninguém. As atividades de cada um os impediram de
perceber o que acontecia.
A mãe
continuava com o almoço, dividindo temperos e sal com o face e o zap. O mais
novo, com fones de ouvido, o pai digitando e o mais velho com o som da TV
forçando o home theater. Era só mais um som.
O
cachorro continuou com seu barulho cada vez mais alto, agora dando voltas em
volta de si mesmo. Mesmo chamando a atenção desta vez, ninguém mexeu mais que o
olhos, e somente uma vez. Houve um - Cala a boca !!! - vindo de alguém.
Apertando
os olhos, como se fitasse diretamente uma luz forte, o cachorro parou uivar e foi para for, onde tudo estava quase inundado.
Nunca antes havia se molhado. Fazia as necessidades dentro de casa, quando
chovia, para o desespero da mãe.
O almoço
foi servido, e só então a falta do eterno pidão foi sentida. Procura daqui e
dali, mas sem sucesso. Portas conferidas. Desespero instalado.
Nunca
mais foi encontrado.....
O mais
novo para na porta da área e fita algo no vazio. Ninguém percebeu......
Ogro!
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