segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O Cachorro da Família


               Um dia de chuva às vezes forte e às vezes fraca castigava a cidade, deixando as famílias presas em casa, fartando-se de biscoitos, televisão e internet. Na sala uma grande tv ficava ligada em tempo integral, mesmo que ninguém estivesse assistindo.

               Enquanto a TV alta gritava palavras sem sentido, o cachorro da casa rodava e rodava na cama, embaixo da cadeira, procurando o melhor lugar para deitar, ou simplesmente mudando de posição.

               Sem ninguém perceber, o cachorro levanta e vai olhar para a área, onde o carro estacionado e a chuva com suas gotas finas formavam uma paisagem bucólica, parada. O cachorro, entretanto, não muda de posição, não desvia o olhar e não dá um latido, um grunido sequer. Algum tempo assim, mas ninguém nota.

               O mais velho, deitado no sofá, só tinha olhos para o super-herói saltando na tela. O pai, sentado na sala digitava freneticamente no computador, que em cima da mesa da sala, deixava irritada a mãe, que queria servir o almoço ( Um frango ensopado, feito com o maior carinho ). O mais novo, jogando num computador ao lado da TV, nem olhava para os lados.

               Ninguém notou, mas o cão, hipnotizado, não desgrudava os olhos da área. Parecia nem respirar. De repente, num rompante, começou a uivar, num misto de uivo e choro, mas não chamou a atenção de ninguém. As atividades de cada um os impediram de perceber o que acontecia.
               A mãe continuava com o almoço, dividindo temperos e sal com o face e o zap. O mais novo, com fones de ouvido, o pai digitando e o mais velho com o som da TV forçando o home theater. Era só mais um som.

               O cachorro continuou com seu barulho cada vez mais alto, agora dando voltas em volta de si mesmo. Mesmo chamando a atenção desta vez, ninguém mexeu mais que o olhos, e somente uma vez. Houve um - Cala a boca !!! - vindo de alguém.

               Apertando os olhos, como se fitasse diretamente uma luz forte, o cachorro parou uivar e  foi para for, onde tudo estava quase inundado. Nunca antes havia se molhado. Fazia as necessidades dentro de casa, quando chovia, para o desespero da mãe.

               O almoço foi servido, e só então a falta do eterno pidão foi sentida. Procura daqui e dali, mas sem sucesso. Portas conferidas. Desespero instalado.

               Nunca mais foi encontrado.....

               O mais novo para na porta da área e fita algo no vazio. Ninguém percebeu......


                                                                                                                                                    Ogro!

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